BR EN
0

Pesquisa

SAMUEL LAMAS EM ENTREVISTA PARA A DESIGN DÉSIR

Os traços de um Brasil que sonha

Obra de Samuel Lamas resgata origens do modernismo brasileiro

 

“Uma geometria muito pura e limpa”, é como define Samuel Lamas o projeto da estante “Carlos”, o primeiro móvel desenhado quase uma década atrás. O projeto inicialmente despretensioso deu origem a uma carreira com mais de uma dezena de prêmios internacionais, entre eles o prestigiado “Prize design for funiture + lighting”, do Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma).

 

 

Leveza e precisão nas linhas são um traço distintivo da obra, abertamente influenciada modernismo brasileiro e referenciada na cidade de origem do designer, Brasília. Formas geométricas se combinam em texturas e cores para fazer a mistura entre o moderno e o tradicional. O resultado é uma elaborada simplicidade.

“Praticamente todas as minhas peças têm um fio condutor em comum. Todos os elementos são indispensáveis para seu funcionamento. A estrutura é dimensionada para garantir a estabilidade usando um mínimo de material. Então essa orientação, que acaba sendo sustentável, acaba passando uma estética leve e simples”, diz Samuel.

 

Origens

Samuel Lamas começou a cursar arquitetura na Universidade Nacional de Brasília (UnB) no início dos anos 2000 e terminou os estudos na Università degli Studi di Roma 3. Lá também trabalhou com o renomado arquiteto italiano Massimiliano Fuksas, onde se dedicou a projetos para concursos.

“Eu sempre gostei de desenhar. Gostava de música... tudo o que envolvia sensibilidade tinha meu interesse. A arquitetura foi uma coisa natural e não tinha outra alternativa”, diz. O caminho para o design veio com a volta para Brasília e a busca pela reconexão com a cidade.

 

Modernismo

“Como voltei pra Brasília eu queria estar aqui e me reconhecer aqui, eu queria que o novo apartamento estivesse em sintonia com a cidade, como uma extensão da cidade. Pra isso eu comecei a buscar a identidade da Brasília original, tanto no espaço como os objetos que vieram para Brasília naquela época, do modernismo”, conta.

Começou então um trabalho de aproximação com os grandes mestres do modernismo brasileiro. Uma busca pelo Brasil que fez Brasília, o país bossa nova, que misturava samba e jazz, que fazia curvas de concreto, que criava para o mundo sem deixar de ser quem é.

Esse mesmo país produziu peças de mobiliário que marcaram época. Samuel começou um trabalho de garimpagem de peças no mercado, em leilões, na internet, no ferro velho. O esforço incluiu a dedicação ao restauro, o entendimento sobre os materiais, o melhor jeito de tratar o Jacarandá.

O sucesso da estante “Carlos” deu início à produção de mais peças, e o reconhecimento transformou a experiência em ofício. A precisão geométrica do metal, o toque suave da madeira, do couro, do tecido, criam uma obra que se faz com simplicidade e contraste. E no fundo nos lembra de um antigo sonho de uma civilização dos trópicos, que buscava ser universal sem deixar de ser o que é.